Entre os 11 países que integram o Observatório Ibero-Americano da Ficção Televisiva (Obitel), Portugal é aquele que, em 2010, mais produziu ficção para horário nobre. As horas dedicadas à ficção no prime time atingiram as 1071, numa tendência que já vinha a verificar-se desde 2008, e que deixa para trás a Colômbia (1060) e os Estados Unidos da América (910). Esta é uma das conclusões da pesquisa efectuada pelo projecto internacional Obitel, que analisa a produção, exibição, consumo, comercialização e propostas temáticas da ficção realizada em Portugal, Espanha, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Uruguaia, Venezuela e Estados Unidos da América.
Os resultados de 2010 do projecto Obitel – que em Portugal é coordenado por Catarina Duff Burnay, da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, e Isabel Ferin Cunha, da Universidade de Coimbra – estão a ser apresentados hoje, dia 20, na Universidade Católica, sob o tema “Qualidade na Ficção Televisiva”.
Em 2010, a Colômbia liderou a produção nacional de horas de ficção (1671), cabendo a Portugal a vice-liderança (1351) e ao Brasil o terceiro lugar (1288). No que se refere aos formatos, a telenovela continua a ser a produção mais popular na maioria dos países, com excepção de Espanha e Portugal que têm apostado mais nas séries e minisséries: Espanha lidera com 26 séries e 13 minisséries, contra 12 e 7, respectivamente, de Portugal. Colômbia com 20 títulos produzidos em 2010, Brasil, EUA e México, todos com 13 títulos, são os países do Obitel que mais produzem telenovelas.
Em Portugal, 90% dos títulos foram emitidos em canais privados, 70% pela TVI e 20% pela SIC. O canal público RTP 1 aparece na lista apenas uma vez com uma minissérie. As audiências médias por minuto – rating – registaram contudo uma diminuição face ao ano anterior: entre 2009 e 2010, o rating desceu quase 2% nos títulos de ficção nacional mais vistos. A TVI liderou em audiência: em 2010, a telenovela “Deixa que Te Leve” alcançou o primeiro lugar como o título mais visto em 2010, com 15,1% de audiência e 43,6% de share. Em segundo e terceiro lugar ficaram, respectivamente, “Espírito Indomável” e “Meu Amor”, todas emitidas pela estação de Queluz.
De uma maneira geral, o perfil das audiências televisivas em Portugal corresponde aos maiores de 64 anos, residentes no interior e pertencentes à classe média baixa ou baixa. Os jovens que assistem às telenovelas – e têm algum acesso à Internet – são normalmente crianças e adolescentes menores de 14 anos, que acompanham os seus avós durante a assistência televisiva no interior, onde não existem tantas opções de lazer como nos grandes centros.
O estudo do Obitel concluiu ainda que, em alguns países como Espanha e Portugal, a Internet parece cumprir o papel de rejuvenescer a audiência televisiva ao atrair uma recepção jovem, cada vez mais personalizada e carente de interactividade. As audiências migram os seus assuntos de conversação cada vez mais para outras plataformas como por exemplo para os sites oficiais dos produtores e estendem-se para outros de encontro na rede. Por exemplo, a telenovela “Espírito Indomável” tinha um site oficial, quatro páginas de grupo e um perfil no Facebook, uma página no Twitter e três blogs de fãs.
Fonte: Cunha Vaz & Associados