terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Investigadores surpreendidos ao descobrir pérolas em ostras no Algarve

Uma equipa de investigadores foi surpreendida ao descobrir pérolas em ostras do género Crassostrea em vários locais do Algarve, desde as rias de Alvor e Formosa até ao Rio Guadiana. O fenómeno, dizem, é muito raro nesta família de bivalves.
"Foi uma surpresa para nós", disse ao PÚBLICO Deborah Power, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), responsável pela investigação, ao lado de Frederico Batista e Ana Grade, da Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira do IPIMAR.

"A descoberta das pérolas aconteceu quando estávamos a trabalhar num projecto para fazer um levantamento das espécies de ostras no Algarve. Visualmente são todas muito parecidas mas, na realidade, podem ser diferentes", acrescentou a investigadora.

Ao longo de todo o ano de 2011, os investigadores recolheram 756 ostras e, de forma inesperada, encontraram pérolas em dois exemplares de Crassostrea, originária do Japão e importada da França para a criação comercial no Algarve. Num só indivíduo foram encontradas quatro pérolas (com um diâmetro inferior a 2 mm) e noutro foi observada uma pérola com cerca de 5 mm de diâmetro e 190 mg de peso. Esta ostra teria entre dois e três anos de idade, estima Deborah Power.

"Ficámos contentes. Este é um fenómeno muito interessante. Noutros países, como o Japão, já se estimula a produção de pérolas pelas ostras. Mas estas não foram provocadas por nós, cresceram no próprio organismo", acrescentou Deborah Power.

“Este fenómeno é frequente noutras espécies, podendo as pérolas atingir um elevado valor comercial. Mas nos últimos dez anos não tinha sido observado em ostras do género Crassostrea, que existem em Portugal”, disse a Universidade do Algarve, em comunicado.

“As pérolas são produzidas por moluscos bivalves, tratando-se de uma reacção defensiva do hospedeiro a corpos estranhos, tais como parasitas ou partículas inertes. O corpo estranho é coberto por várias camadas, sendo estas constituídas essencialmente por carbonato de cálcio sob a forma de cristais de aragonite”, escrevem os investigadores.

Deborah Power adiantou que já foram enviadas algumas pérolas para um laboratório da Universidade de Cambridge. "Através da realização de vários testes e do estudo da estrutura das ostras vamos tentar saber o que provocou a formação das pérolas."

Depois de um ano de monitorização das ostras do Sul do país, os investigadores confirmaram a "grande diversidade" da região. "A Ria Formosa e a zona do Guadiana são focos de grande biodiversidade".

Agora, os investigadores gostariam de desenvolver estudos para valorizar a espécie portuguesa, Crassostrea angulata, um recurso endógeno e mais adaptado às condições do país.

Questionada sobre os impactos da espécie japonesa sobre a portuguesa, Deborah Power respondeu que os estudos ainda não estão concluídos. "Mas, com base naquilo que observámos, posso dizer que, por enquanto, não há uma grande competição; a japonesa não é considerada invasora, apesar de ocuparem o mesmo espaço. Mas pode haver cruzamento. Esta é uma área com muito interesse".

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