segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Dez exemplos que mostram a qualidade da ciência nacional em 2011

Da investigação sobre o Alzheimer, até à tecnologia que vai ajudar o próximo rover a sobreviver ao frio de Marte. O PÚBLICO contactou algumas universidades portuguesas para ouvir o que de mais interessante se fez no ano que terminou. A lista resultante é uma pequena amostra da realidade, mas revela que a ciência nacional está em evidência em muitas áreas.
 
Estrelas de matéria escura
É uma antiga guerra teórica dos físicos: o que é que acontece quando as estrelas deixam de ter matéria para consumir? Uma das principais teorias defende que o seu peso obrigaria a estrela a colapsar, originando um ponto de densidade tão alto – os chamados buracos negros – que sugaria até a luz, e onde o espaço e o tempo se comportariam de uma outra forma. Mas houve sempre teóricos que criticaram este conceito excepcional de “singularidade” dos buracos negros, que existiriam em vários pontos do universo. Num artigo aceite para publicação na Physical Review Letters, Paolo Pani, Vitor Cardoso e Térence Delsate, do Instituto Superior Técnico, sugerem agora que este colapso das estrelas não resultará numa singularidade e explicam que o aumento súbito da densidade da matéria pode originar uma nova força gravitacional, a chamada matéria escura. O resultante será uma “estrela de matéria escura” invisível aos telescópios.

Vulcão origina explosão de vida no mar
Foi um dos estudos mais interessantes do ano, de acordo com a NASA. Vasco Mantas, cientista da Universidade de Coimbra, documentou pela primeira vez algo que sempre se julgou acontecer, um aparecimento súbito de organismos em regiões submarinas onde ocorre uma erupção vulcânica. O investigador verificou, com ajuda de imagens de satélite, o aparecimento de microalgas associado ao vulcanismo, em regiões do Pacífico pobres em nutrientes. O fenómeno “tem consequências, por exemplo, na cadeia alimentar, fazendo aumentar a ‘carga’ de peixe, e na diminuição da quantidade de dióxido de carbono”, explicou o cientista num comunicado.

Cerâmica para gerar energia
Chama-se Projecto Solar Tiles, reúne um consórcio de nove entidades nacionais, desde empresas até institutos e universidades, e teve o apoio do QREN. O objectivo do projecto, de que a Universidade do Minho foi promotora, é simples: produzir peças de cerâmica como as telhas, que contenham células fotovoltaicas capazes de utilizar a energia solar, transformando-a em energia eléctrica. O trabalho terminou em Agosto do ano passado, com um protótipo pré-industrial. O próximo passo será a sua produção em massa.

Diagnosticar a doença de Alzheimer sem erros
Identificar uma pessoa com doença degenerativa de Alzheimer sempre foi um problema, pela dificuldade de encontrar alguma substância produzida pelo corpo associada à doença. A empresa 2CTech, associada ao Centro de Biologia Celular da Universidade de Aveiro, criou um teste que avalia três biomarcadores neurológicos e diagnostica a doença sem erros. As investigadoras Odete Cruz e Silva e Margarida Fardilha conseguem ainda identificar pacientes que estão num estado precoce do processo degenerativo e vão desenvolver a doença.

Testar o aquecimento global num ribeiro
Os resultados estão por vir, mas a experiência pioneira em toda a Europa foi posta em prática neste ano. A ribeira do Candal, na Lousã, tem agora um troço de 22 metros separado ao meio, a nível longitudinal. Numa parte tudo acontece naturalmente, na outra um termoacumulador vai aquecer a água em cerca de 3ºC. A experiência, coordenada por Cristina Canhoto, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e que tem uma dezena de colaborações internacionais, além de várias parcerias nacionais, quer responder a uma questão: o que vai acontecer ao funcionamento dos ecossistemas dos rios com o aumento de temperatura?

Automóvel que anda sozinho
Atlascar é um Ford Escort que passou a andar sozinho. A equipa do Atlas, coordenada Vítor Manuel Santos, da Universidade de Aveiro, construiu o primeiro carro português que não precisa de condutor. Os investigadores instalaram um robô neste modelo automóvel com sensores e actuadores que permitem investigar e desenvolver a condução assistida. O projecto venceu em 2011 o prémio Freebots Competition no Festival de Robótica Assistida, promovido pela Sociedade Portuguesa de Robótica.Grafeno
Muitos dizem que o grafeno é o material do futuro. O composto é formado por uma camada de átomos de carbono cujas ligações resulta numa estrutura de hexágonos, como se fosse uma colmeia. O material promete revoluções na electrónica. Nuno Peres, do Centro de Física da Escola de Ciência da Universidade do Minho, é responsável por um dos laboratórios mais importantes do mundo que estuda as propriedades deste material. Em 2011, o cientista ganhou o Prémio Ciência da Gulbenkian e está a estudar agora as propriedades da camada dupla de grafeno, que poderá ter aplicações em aparelhos de comunicação móvel, células solares, detectores de radiação electromagnética, sensores de pequenas quantidades de moléculas, sensores de tensão em estruturas, sequenciação do ADN.

Aerogéis contra frio de Marte
A temperatura média de Marte é de 63 graus Celsius negativos. Qualquer máquina enviada para lá tem que suportar um clima gelado. No caso do próximo veículo (rover) que a Agência Espacial Europeia pensa em enviar em 2016, são os investigadores do Instituto Pedro Nunes, associado à Universidade de Coimbra, que estão a resolver esta questão A equipa liderada por Ricardo Patrício desenvolveu neste ano aerogéis que protegem os circuitos electrónicos da temperatura e pressão do ambiente agreste do planeta vermelho. A substância foi produzida através de “um processo específico de secagem dos produtos à base de sílica que garante uma menor densidade e maior flexibilidade”, explicou o cientista, num comunicado.

Sequenciar genomas é mais barato
A sequenciação de genomas é uma das técnicas mais importantes da biologia. Através dela é possível saber a sequência dos tijolos de ADN que forma o genoma de animais, plantas, bactérias, vírus, espécies extintas e do ser humano. O processo é importante em inúmeras actividades, desde conhecer a origem genética de doenças, até ajudar a compreender a árvore da vida. O sistema desenvolvido por Francisco Fernandes, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, do Instituto Superior Técnico, funciona com um novo algoritmo informático que torna este processo mais económico e dá um passo em frente para a democratização do acesso à sequenciação genética, o que pode ajudar a tornar a medicina personalizada numa realidade.

Regeneração de tecidos em marcha
Como é que se pode regenerar cartilagem ou osso? Utilizando materiais como o amido de milho, soja e a quitina. Esta é a aposta de investigação da equipa de Rui Reis, que acredita que um dia irá ser possível regenerar membros completos. O investigador é director do grupo 3B’s, Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos da Universidade do Minho e em 2011 publicou dezenas de artigos nesta área. No ano passado foi galardoado com o George Winter Award, o principal prémio Europeu na área dos biomateriais.

Fonte: Público

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